Saúde Pública
Portugal realiza o dobro de episiotomias comparado à média europeia: Uma análise da violência obstétrica
Portugal realiza o dobro de episiotomias comparado à média europeia: Uma análise da violência obstétrica

A violência obstétrica e as episiotomias em Portugal
A violência obstétrica é um tema cada vez mais discutido nas últimas décadas, especialmente em relação às práticas invasivas durante o parto, como a episiotomia. Este procedimento, que envolve o corte dos tecidos vaginais, é realizado em muitos lugares, mas o que se observa em Portugal é preocupante: o país apresenta taxas de episiotomia que são quase o dobro da média europeia. Este dado acende um sinal de alerta para a necessidade de uma reavaliação das práticas obstétricas, considerando que a episiotomia é frequentemente vista como uma intervenção desnecessária e muitas vezes prejudicial à saúde da mulher. Neste contexto, é fundamental entender o que leva a essa alta taxa de intervenções e quais os impactos disso na saúde das mulheres.
As diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Direção-Geral da Saúde (DGS) já indicam que a episiotomia deveria ser uma exceção, e não a regra. A prática deve ser feita apenas em circunstâncias específicas, onde há realmente a necessidade de prevenir complicações durante o parto. Contudo, os dados mostram que muitos profissionais ainda adotam essa intervenção de forma rotina, o que levanta a questão sobre a formação e a atualização dos médicos em relação às melhores práticas obstétricas. Afinal, deve-se priorizar sempre o bem-estar da parturiente e não apenas a conveniência do atendimento.
Além da preocupação com a saúde das mulheres, a recente institucionalização do conceito de violência obstétrica em Portugal traz à tona a responsabilidade dos profissionais e das instituições de saúde. Com a nova legislação, que busca inteirar os cidadãos e regular as práticas de parto, espera-se que haja um aumento da conscientização não apenas entre as pacientes, mas também entre os médicos. Os hospitais que não atenderem às recomendações das OMS e DGS poderão enfrentar penalidades financeiras e medidas disciplinares contra os profissionais envolvidos. Essa abordagem tem por objetivo garantir que as mulheres tenham um parto digno, respeitando suas escolhas e minimizando ações invasivas sem uma justificativa concreta.
Impacto da nova legislação na prática obstétrica
O novo diploma legal, que foca na proteção dos direitos das mujeres durante a gravidez e o parto, é um passo importante para o reconhecimento da violência obstétrica como uma questão a ser enfrentada. As penalizações financeiras previstas para hospitais que não seguirem as diretrizes internacionais representam um avanço na luta pela humanização do parto. No entanto, também é essencial que haja um esforço coletivo para melhorar a educação e a formação dos profissionais de saúde. O debate sobre a episiotomia e a violência obstétrica deve estar presente nos cursos de medicina, assim como em programas de formação continuada.
O impacto da violência obstétrica vai além do físico, pois as experiências traumáticas durante o parto podem levar a efeitos psicológicos duradouros. Mulheres que vivenciam partos marcados pela violência obstétrica podem desenvolver transtornos como a depressão pós-parto ou o transtorno de estresse pós-traumático. Portanto, abordar a questão das episiotomias e de outras práticas invasivas é também uma maneira de cuidar da saúde mental das mulheres, oferecendo um espaço seguro e acolhedor para que possam trazer ao mundo seus filhos.
As experiências de mulheres que passaram por partos em diferentes contextos nos mostram que a humanização dos atendimentos é uma necessidade urgente. O relato de muitas mães evidencia que o respeito pela decisão do paciente, a comunicação clara e eficaz entre a equipe médica e a parturiente, e a validação de suas escolhas podem transformar um momento potencialmente traumático em uma experiência positiva. O diálogo aberto sobre o papel da episiotomia e outras intervenções é fundamental para que se construa um novo paradigma na atenção obstétrica.
Construindo um futuro mais seguro para o parto
Para que se possa garantir a saúde e o bem-estar das mulheres durante o parto, é necessário que haja uma mudança de cultura dentro das instituições de saúde. Educadores, profissionais de saúde e gestores devem trabalhar juntos para promover uma nova abordagem que valorize o protagonismo da mulher no processo de dar à luz. A disseminação de informações sobre os direitos das gestantes e a importância de evitar intervenções desnecessárias é fundamental para criar um novo quadro no qual as mulheres sintam-se empoderadas e respeitadas.
A experiência de dar à luz deve ser marcada pela autonomia e pela escolha informada. Informar as pacientes sobre as práticas obstétricas e os riscos associados à episiotomia é um passo crucial para capacitá-las a tomarem decisões sobre seus próprios corpos. Ao fomentar um ambiente de confiança e escuta, os profissionais de saúde podem não apenas melhorar as experiências de parto, mas também reduzir as taxas de violência obstétrica em geral.
Em conclusão, a luta contra a violência obstétrica e a prática excessiva de episiotomias é uma parte crucial do movimento por direitos de saúde das mulheres. Há uma necessidade urgente de revisão das práticas obstétricas em Portugal, com um foco em evidências e nos direitos das pacientes. Com a legislação recente e um crescente diálogo sobre estas questões, há esperança de que o parto no país se torne mais humano, seguro e respeitoso, alinhando-se às melhores práticas internacionais.