Política e Governança
O Poder do Olhar: A Revolução de Reconhecer o Outro na Política
O Poder do Olhar: A Revolução de Reconhecer o Outro na Política

O contato visual vai muito além de um simples gesto; é uma forma poderosa de reconhecimento e afirmação política nas relações interpessoais. Quando duas pessoas se encontram e trocam olhares, é como se estivessem estabelecendo uma ponte de comunicação que transcende palavras. Esse ato, muitas vezes subestimado, é uma demonstração clara da vontade de pertencimento em uma sociedade e permite que cada indivíduo se sinta parte de um coletivo. Através dessa lente, podemos explorar como o olhar pode ser uma ferramenta de inclusão e um meio eficaz de promover a participação política na vida cotidiana.
O autor Ruy Filho ilustra sua argumentação com as memórias de duas figuras que marcaram sua vida: uma mulher que capturava seus pensamentos e emoções em círculos cuidadosamente desenhados e um homem que se comunicava por meio de um celular quebrado. Estas personagens simbólicas representam a determinação da comunicação em tempos e contextos difíceis. Embora estejam imersas em situações de precariedade social, sua insistência em trocar olhares e fomentar diálogos invisíveis revela a resiliência humana e a urgência de expressar-se, mesmo quando os meios disponíveis são limitados.
Neste quadro, a reflexão sobre o papel da política nas interações diárias ganha destaque. Aristóteles defendeu que a política é uma busca pela felicidade, e, ao nos afastarmos dessa busca coletiva, corremos o risco de relegar nossa voz a um silêncio desconfortável. Muitos costumam afirmar uma posição política apenas no nível simbólico, ignorando a complexidade dos processos que compõem a dinâmica social. Assim, ao rejeitar a política enquanto um ato participativo, acabamos por abdicar de nossa capacidade de agir e moldar a realidade ao nosso redor.
A rejeição da política em sua forma mais ampla se reflete em um desengajamento coletivo que se alastra na sociedade contemporânea. É cada vez mais comum observar pessoas que se posicionam contra a política tradicional ao mesmo tempo em que reivindicam mudanças. Essa dualidade gera confusão e fragiliza as bases das discussões que deveriam fomentar um diálogo construtivo. Como podemos, então, afirmar nosso papel dentro da política sem esquecer da responsabilidade que isso implica? É necessário entender que pequenas ações, como olhar nos olhos do outro, podem ter um impacto significativo.
Reverter essa tendência de desengajamento político requer a reinvenção da micropolítica nas interações diárias. Cada olhar e cada gesto de inclusão precisa ser valorizado como um ato político em sua essência. As práticas de reconhecimento no espaço público não devem ser negligenciadas, pois são fundamentais para a construção de uma comunidade coesa. Ao abrir-se ao outro, por meio do contato visual e da expressão de intenções, transformamos nosso cotidiano em um campo fértil para a política.
A inclusão do outro no nosso espaço de vivência cotidiana enriquece não apenas a nós mesmos, mas também a dinâmica social em que estamos inseridos. Cada simples ato pode ser um passo rumo à conscientização e à transformação social. Através do olhar, podemos afirmar nossa presença, reconhecer a existência do outro e, com isso, fortalecer os laços sociais que nos unem. O convite é para que todos se permitam essa abertura ao diálogo, pois a política também se faz das interações mais simples do dia a dia.
Em suma, o olhar é um reflexo poderoso de uma política viva e pulsante. O simples ato de dividir um momento ocular com alguém pode criar um eco de transformação social. Ruy Filho nos incentiva a repensar nossas práticas cotidianas e a buscar a reaproximação com o outro, promovendo uma cultura de inclusão e respeito. É preciso que cada um de nós assumamos o compromisso de não apenas ser espectadores, mas protagonistas da nossa realidade política, utilizando o olhar como um ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre nossos papéis dentro da sociedade.
A ação política não precisa ser grandiosa ou monumental; ela pode e deve começar de forma sutil, com pequenos gestos que promovam a conexão humana. Cada olhar dado com intenção, cada sorriso compartilhado, pode ser um ato revolucionário em meio a um cenário de isolamento e desconexão. Ao escolher olhar para o outro e reconhecer sua presença, tornamo-nos agentes de mudança e inovadores da micropolítica que podem transformar nossa realidade e promover uma convivência mais harmônica e solidária.
Portanto, em um mundo onde a participação política muitas vezes é deixada de lado, resgatar o olhar como um ato político pode ser o primeiro passo para um engajamento mais profundo e significativo. Que possamos, então, cultivar uma cultura de diálogo e inclusão, reconhecendo no olhar a potência de uma revolução silenciosa que começa em cada um de nós.