Origens e Contexto

A iniciativa de criar o Festival de Cannes surgiu como uma resposta ao Festival de Veneza, que em 1938 havia se tornado um veículo de propaganda nazista e fascista. A Itália, sob Benito Mussolini, e a Alemanha, sob Adolf Hitler, influenciavam diretamente a escolha dos filmes e a distribuição dos prêmios. Indignados com essa situação, artistas e produtores franceses decidiram organizar um novo festival de cinema em Cannes, uma cidade elegante e balneária na costa mediterrânea.

A Edição de 1939 e a Interrupção pela Segunda Guerra Mundial

A programação do evento de 1939 estava agendada para ocorrer de 1º a 20 de setembro. No entanto, na manhã de 1º de setembro, dia da inauguração do festival, Hitler invadiu a Polônia, marcando o início da Segunda Guerra Mundial. Em resposta à invasão, o governo francês ordenou a mobilização geral, e o festival teve de ser suspenso. Apenas um filme havia sido exibido: "O Corcunda de Notre Dame", do germano-americano William Dieterle. Dois dias depois, a França e a Grã-Bretanha declararam guerra à Alemanha, encerrando qualquer possibilidade de continuidade do evento.

Renascimento do Festival em 1946

Apenas em 1946, o Festival de Cannes ressurgiu, com o objetivo de promover a criação artística entre as produções de diversas nações. A programação da edição de 1946 incluiu filmes como "Farrapo Humano", de Billy Wilder; "Roma, Cidade Aberta", de Roberto Rossellini; "A Batalha dos Trilhos", de René Clément; e "Desencanto", de David Lean. O festival premiou René Clément com o Grande Prêmio e outros nove prêmios especiais foram distribuídos.

Desenvolvimento e Estabilidade

Nos primeiros anos, o Festival de Cannes enfrentou dificuldades financeiras, mas em 1952, com a inauguração do ‘Palais des Festivals’ como sede permanente, o evento ganhou estabilidade. Hoje, o festival atrai mais de 30 mil pessoas no mês de maio.

História da Lusofonia em Cannes

O festival também teve participações significativas de filmes lusófonos ao longo dos anos. Alguns exemplos incluem:

• 1953: Melhor Filme de Aventura – "O Cangaceiro", de Lima Barreto;
• 1959: Palma de Ouro – "Orfeu Negro", dirigido por Marcel Camus, primeiro filme em língua portuguesa a receber o principal prêmio de Cannes;
• 1962: Palma de Ouro – "O Pagador de Promessas", dirigido por Anselmo Duarte;
• 1967: Prêmio da Crítica Internacional – "Terra em Transe", de Glauber Rocha;
• 1969: Melhor Direção – Glauber Rocha, por "O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro";
• 1986: Prémio de Interpretação Feminina – Fernanda Torres, por "Eu Sei que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor;
• 1997: Prêmio da Crítica Internacional – "Viagem ao Princípio do Mundo", de Manoel de Oliveira;
• 1999: Prêmio Especial do Júri – "A Carta", de Manoel de Oliveira;
• 2008: Prémio de Interpretação Feminina – Sandra Corveloni, por "Linha de Passe";
• 2019: Prêmio do Júri – "Bacurau", dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.

O Festival de Cannes se consolidou como um dos mais importantes eventos cinematográficos do mundo, promovendo a diversidade cultural e a excelência artística no cinema global.

Fonte:

Revista Oeste - https://revistaoeste.com/historia/20-de-setembro-na-historia-estreia-na-franca-o-festival-de-cannes/