Educação
O risco da perda da distinção entre universidades e politécnicos no ensino superior português
O risco da perda da distinção entre universidades e politécnicos no ensino superior português

A dualidade do sistema de ensino superior em Portugal, que separa universidades e politécnicos, representa uma herança valiosa que merece ser preservada. Recentemente, a proposta de revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) trouxe à tona a questão das universidades politécnicas, que podem diluir essa distinção. A construção de um sistema educacional sólido exige que passemos a compreender essas duas vias de formação como complementares, mas distintas.
Historicamente, as universidades em Portugal têm se concentrado em oferecer uma educação voltada para a teoria e a pesquisa, enquanto os politécnicos tendem a se focar em um ensino mais aplicável e prático. Essa diferenciação é fundamental, pois permite que os alunos adquiram não apenas habilidades técnicas, mas também competências críticas e analíticas que são essenciais no mundo contemporâneo.
No entanto, a crescente valorização do conhecimento aplicado sugere uma tendência preocupante: a de que saber teórico e crítico se torne secundário em relação ao ensino prático voltado exclusivamente ao mercado de trabalho. Essa visão reducionista pode levar a uma formação que prioriza a empregabilidade em detrimento do verdadeiro conhecimento, o que é um dos principais pilares das universidades.
A crítica principal ao sistema atual é que a busca pelo conhecimento deve ser encarada como um fim em si mesmo e não apenas como uma etapa no caminho para a inserção profissional. O papel da universidade, portanto, vai muito além da mera preparação para o mercado; é um lugar onde se deve valorizar a reflexão crítica e o debate profundo sobre diversas áreas do saber, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e críticos.
Além disso, as experiências acadêmicas distintas entre universidades e politécnicos são enriquecedoras, pois possibilitam a construção de um conhecimento diverso e aplicável em várias esferas. A diversidade de enfoques educacionais e de metodologias deve ser respeitada e defendida, garantindo que os alunos tenham acesso a diferentes perspectivas e abordagens.
Portanto, a proposta de criar universidades politécnicas pode parecer uma solução para a demanda por ensino superior mais prático e voltado ao mercado. No entanto, é crucial questionar se essa reforma realmente agrega valor ao sistema educacional ou se, por outro lado, compromete a essência crítica e reflexiva que deve estar ligada à formação universitária.
Em conclusão, o sistema binário de ensino superior em Portugal deve ser visto não apenas como uma estrutura educacional, mas também como uma preservação de tradições importantes. Para garantir um espaço educativo saudável, é necessário que se abram caminhos para debates mais profundos e reflexões críticas, sem se submeter às pressões do imediatismo. O futuro do conhecimento depende de nossa capacidade de manter viva a chama da curiosidade e da investigação, que são pilares do verdadeiro saber.
Para que as instituições de ensino superior cumpram efetivamente seu papel, é essencial que a distinctio entre universidades e politécnicos seja respeitada, sendo que cada uma dessas instituições tem seu papel crucial na formação de um conhecimento amplo e diversificado. Assim, devemos refletir sobre o que queremos para a educação em nosso país e lutar pela manutenção de um sistema que valorize todas as suas facetas.